6 de nov. de 2007

Uniformidade de tratamento (pronome tu)

Na linguagem do dia-a-dia, no Brasil, é comum a mistura de pronomes da 2ª com pronomes da 3ª pessoa, como você (que é pronome da 3ª pessoa) e te ou teu (que são pronomes da 2ª pessoa).
Por exemplo:
"Você se enfiou onde, meu Deus?
Eu te procurei, mas não te achei."
O padrão formal da língua exige a uniformidade de tratamento, tudo na 2ª ou tudo na 3ª pessoa. Assim, o correto seria:
"Tu te enfiaste onde? Onde tu te enfiaste?
Eu te procurei, mas não te encontrei."
"Você se enfiou onde, meu Deus?.
Eu o procurei, mas não o encontrei."
Há uma canção cantada por Dick Farney, "Copacabana", que é um primor quanto à uniformidade de tratamento:
"Existem praias tão lindas, cheias de luz
Nenhuma tem o encanto que tu possuis
Tuas areias, teu céu tão lindo
Tuas sereias sempre sorrindo, sempre sorrindo.
Copacabana, princesinha do mar,
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha o sol poente
Deixa sempre uma saudade na gente.
Copacabana, o mar, eterno cantor,
Ao te beijar ficou perdido de amor.
E hoje vivo a murmurar.
Só a ti, Copacabana, eu hei de amar."
Todo o texto foi escrito na 2ª pessoa do singular. Tu, pronome da 2ª pessoa, os possesivos e os oblíquos todos na 2ª pessoa e, também , os verbos conjugados adequadamente:
"Tuas areias, teu céu tão lindo...
Só a ti, copacabana...
Tu és a vida a cantar
Tu possuis..."

A uniformidade de tratamento é necessária na linguagem formal. Na linguagem coloquial nem sempre ela é respeitada, mas seria desejável.


Fonte: http://www.scribd.com/doc/29981/Pasquale-Cipro-Neto-Nossa-Lingua-Portuguesa

Uso culto e uso popular dos pronomes (te/lhe)

Na linguagem do dia-a-dia há uma confusão muito comum quanto ao uso dos pronomes.
Ex: Você fez o que eu te pedi?
Na linguagem formal isso não seria posssível. Você é 3ª pessoa, te é 2ª. O correto seria dizer "Você fez o que eu lhe pedi?" Às vezes o exagero é maior. Veja o exemplo no nome da música "Eu te amo você", de Kiko Zambianchi.
"Eu te amo você"
São dois os problemas nesse título: a mistura do te que é 2ª pessoa e você que é 3ª; a repetição desnecessária de pronomes: Eu te amo você". É perfeitamente possível dizer "Eu te amo a ti", já que os pronomes estão na mesma pessoa. No dia-a-dia ouve-se também, "Eu te disse pra você". O correto seria "Eu te disse a ti". Mas é uma forma inadequada para se falar cotidianamente. Ficaria melhor numa linguagem mais formal.

Expressões

Existem determinadas expressões brasileiras que mudam de estado para estado. Um exemplo é a expressão "ficar de mal", que em alguns lugares fica como sugere a música de João Nogueira, "Espelho".
" ...troquei de mal com Deus por me levar meu pai..."
Em São Paulo ninguém fala "troquei de mal", que é próprio do Rio de Janeiro e de outras regiões. Em São Paulo se fala "fiquei de mal".
Nessa mesma letra João Nogueira escreve "... um dia eu me tornei o bambambã da esquina...". Bambambã; é uma expressão conhecida em todo o território nacional: o bambambã do futebol, o número 1 do time.
Essa variação de expressões, de lugar para lugar, é normal, comum. Em São Paulo, as pessoas descem do ônibus. No Rio de Janeiro, elas saltam do ônibus. A média na capital paulista é café com leite. Em Santos, média é um pãozinho. Pãozinho, em Itú - SP, é filão. O filão em São Paulo - capital é um pão grande.
A língua oficial não pode ser usada o tempo todo e em qualquer situação, por isso as variações existem e são riquíssimas.
É o caso da palavra "cacete". A palavra cacete em língua culta significa enfadonho, "um filme enfadonho, um filme cacete".
O professor Pasquale conta um caso que lhe ocorreu em Salvador. Em uma padaria, ao pedir 5 pãezinhos, a balconista anunciou ao padeiro "Salta 5 cacetinhos".
Seria estranho, em São Paulo, alguém pedir em uma padaria "cinco cacetinhos". No entanto, a expressão "do cacete" é popularíssima, já está consagrada. Uma coisa que "é do cacete" é uma coisa ótima. Inspira até um trocadilho como o apresentado em uma campanha publicitária sobre o Caribe:
Aruba é do Caribe.
É claro que Aruba é do Caribe, mas a intenção é outra.
Esse Caribe da frase está no lugar de uma expressão popular que tem o tom de positivismo. Quando uma coisa "é do cacete", ela é muito boa.
Expressões como essa não devem ser usadas em textos formais. São liberdades lingüísticas que só fazem sentido no padrão coloquial da linguagem, no padrão do dia-a-dia.
Existem certas expressões que são usadas no dia-a-dia de modo mecânico e muitas vezes sem muita certeza. É o caso da expressão "a par". Ou será que é "ao par"?
A dúvida é lançada nas ruas e muita gente acerta.
O certo é dizer "a par" - Eu estou a par da situação".
Outra expressão que provoca calafrios é aquela dita em situações em que a pessoa que diz tem de correr: "Eu, heim?!! Pernas pra que te quero!"
De volta à rua , dessa vez as pessoas erram feio. O certo seria dizer "... pernas pra que.... ?".
Se "pernas" é plural e "te" é singular não combinam. Logo, "pernas pra que vos quero".
Outra expressão, também muito usada é "grosso modo".

As pessoas dizem, normalmente, "a grosso modo". Mas a expressão é latina e deve ser dita na forma original "grosso modo", que significa "de modo grosseiro, impreciso".

Fonte: http://www.scribd.com/doc/29981/Pasquale-Cipro-Neto-Nossa-Lingua-Portuguesa

Linguagem coloquial

Neste módulo, o prof. Pasquale observa que a língua falada é diferente da língua escrita. A língua escrita é formal, enquanto a língua falada é um pouco mais livre, mais solta. Como exemplo é utilizado o trecho de uma canção em que aparece uma expressão muito comum na fala, no bate-papo, mas que não deve freqüentar o chamado padrão escrito, o padrão formal da língua. O trecho faz parte da canção "Pra Dizer Adeus", com os Titãs:

"...não dá pra imaginar quando
é cedo ou tarde demais
Pra dizer adeus, pra dizer jamais"

Na linguagem popular, a expressão "não dá pra..." é aceita e muito comum. No texto formal, no entanto, o mais apropriado seria utilizar "não é possível" ou algo equivalente.
A expressão "não dá pra..." é muito comum, muito recorrente. Outro exemplo do seu uso é a canção "Rádio Bla", com Lobão:
"... não dá para controlar, não dá,
não dá pra planejar..."
Utilizar esta expressão não é errado. Ela é adequada a um determinado nível de linguagem, como a fala. Mas na hora de usar o padrão escrito, nem pensar!

Fonte: http://www.scribd.com/doc/29981/Pasquale-Cipro-Neto-Nossa-Lingua-Portuguesa

Gíria

Observe a letra desta canção:
"A gente quer calor no coração;
a gente quer suar, mas de prazer:
a gente quer é ter muita saúde;
a gente quer viver a liberdade;
a gente quer viver felicidade.
É, a gente não tem cara de panaca,
a gente não tem jeito de babaca..."
Música "É" (Luiz Gonzaga Jr.)

Nessa letra de Gonzaguinha, vimos o uso das gírias "panaca" e "babaca". Essa última, por sinal, tem a sua variante culta, "basbaque", o cidadão bobo. Do termo "basbaque" surgiu a variante "babaca", uma gíria. "Panaca" é a mesma coisa, uma gíria com significado semelhante a "babaca".

Vamos a um trecho da canção "Vida Louca Vida", gravada por Lobão:
"...Se ninguém olha quando você passa,
você logo acha: _"tô carente,
sou manchete popular."
Já me cansei de toda essa tolice,
babaquice,
essa eterna falta do que falar."

Que posição nós devemos ter em relação à gíria? Preconceito? Não.
A gíria é um recurso lingüístico saudável e pode ser interessante e criativa. A gíria vai e vem: ela nasce, vive, desaparece e depois surge novamente. Por outro lado, é importante ficar claro que a gíria é adequada ao padrão informal da linguagem. No texto formal não faz sentido usá-la. Por isso, procure não usar gírias na linguagem escrita, no padrão formal.

Fonte: http://www.scribd.com/doc/29981/Pasquale-Cipro-Neto-Nossa-Lingua-Portuguesa

Gente

Afinal de contas, nós podemos ou não utilizar a expressão "a gente" no lugar de "nós" ? Dizer que não há problema nenhum em usarmos a expressão no dia-a-dia, na linguagem coloquial, deixa muitas pessoas satisfeitas. Mas há também aqueles que não aceitam isso de jeito nenhum, que acham que esse uso da palavra "gente" deve ser abolido de uma vez.
Claro que não é possível eliminar a expressão da língua do Brasil, mesmo porque seu uso já está mais do que consagrado. Mas quando podemos utilizar "a gente" no lugar de "nós" ? No bate-papo, na linguagem informal. No texto formal, nem pensar. E a concordância, como se faz? É "a gente quer" ou a "gente queremos" ?
A maneira correta é:
A gente quer.
Nós queremos.
O uso da expressão "a gente" em substituição a "nós" é tão forte que algumas vezes dá origem a confusões. Veja o trecho da canção "Música de rua" , gravada por Daniela Mercury:
"... E a gente dança
A gente dança a nossa dança
A gente dança
A nossa dança a gente dança
Azul que é a cor de um país
que cantando ele diz
que é feliz e chora"
"A gente dança a nossa dança".
É tão forte a idéia de "gente" no lugar de "nós" que nem faria muito sentido outro pronome possessivo para "gente", não é? Mas "nossa" é pronome possessivo da 1ª pessoa do plural. Portanto deveria ser usado com o pronome "nós":
"Nós dançamos a nossa dança".
No bate-papo, no dia-a-dia, na canção popular, será que é absurdo o emprego da palavra "gente"? Que nos perdoem os puristas, os radicais, os conservadores, mas entendemos que não há absurdo algum. Só não é possível aceitar construções como "a gente queremos". Aí já é demais.

Fonte: http://www.scribd.com/doc/29981/Pasquale-Cipro-Neto-Nossa-Lingua-Portuguesa
 
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